13 de janeiro de 2010

O diálogo que não veio - Uma análise crítica sobre a dança na igreja evangélica brasileira

Por Vitoria Meireles

Aproximando-se o ano de 2010, a igreja evangélica brasileira está para viver o fechamento de um ciclo de aproximados 10 anos de efervescência, desde o retorno da dança na liturgia. Retorno, porque nos idos do século XIII e até o século XV, a igreja cristã católica romana experimentou algumas benesses da presença da dança em sua liturgia. Contudo, nesse mesmo período, por inúmeras razões sobre as quais seria preciso um estudo à parte, ela estava para abolir essa dança então chamada de carola ou tripudio ou somente dança (numa tentativa de aproximação).

Passados alguns séculos, a igreja vive - nesse caso, a evangélica - um momento parecido (guardadas as proporções espaço-tempo), pois após esse período de muita efervescência e aparente contribuição da dança na liturgia, muitas igrejas e até denominações inteiras têm preferido abolir essa participação ou, em outros casos, simplesmente não deixá-la começar.

Desde as duas últimas décadas do século XX, já se podia perceber um prenúncio do que tem se presenciado nos últimos dez anos, sob o nome de grupo de coreografia, embora a efervescência de tal dança possa ser notada a partir de meados da última década, já no século XXI. É preciso, porém, fazer um recorte histórico para dizer que a arte, ao contrário do que muita gente imagina, sempre esteve presente na história da vida cristã e da igreja. Há inúmeros exemplos no Antigo Testamento sobre a preocupação quanto ao local de culto e celebração ser arquitetado e adornado sob as mãos dos mais habilidosos artistas. Dando um salto para a Idade Média, é fato a participação da arte em todo o contexto da igreja, manifestado não só na arquitetura e no adorno das igrejas romanas, mas também nas festas e celebrações, ainda que sob o contexto negativo vivido pela religiosidade da época.

Com a chegada da modernidade e o crescimento dos movimentos protestantes houve um rompimento nesse processo de participação da arte, sobretudo na igreja de cunho evangelical e posteriormente nas de cunho pentecostal e neopentecostal. A arquitetura tornou-se pobre, toda e qualquer manifestação artística foi abolida e entendida como ardil, do diabo e contrária aos cristãos evangélicos. A revelação, a Bíblia, ocupava a centralidade do culto, porém sob uma leitura muitas vezes fundamentalista e autoritária quanto à sua aplicação doutrinária.

Importante ressaltar que não há aqui nenhuma intenção de protestar contra a Bíblia como centralidade do culto. Na verdade, percebe-se hoje um movimento perigosamente contrário a isso nas igrejas. E, onde a falta de equilíbrio impera, há distorções que conduzem a manifestações de fundamentalismos que desumanizam e afastam a igreja do plano central de Deus, que é o amor.

Na atualidade, período entendido como pós-modernidade ou alta-modernidade ou simplesmente contemporaneidade, após a igreja evangélica se consolidar historicamente e desenvolver inúmeras teologias e doutrinas, vê-se o movimento de retorno às artes com a inserção de algumas manifestações cênicas outrora inimagináveis no seio da igreja - como a dança, por exemplo, além do teatro e do circo. Contudo, esse movimento tem se dado de forma desequilibrada e proporcionado mais repúdio e misticismo do que alteridade, comunhão, fruição e beleza.

A arte cumpre um papel de refinamento e especialização do olhar, entre outras coisas, como o estabelecimento de relações de troca. Como linguagem, colabora na educação, na ampliação da visão e cosmovisão de mundo, devido ao seu caráter de subjetividade que acessa os sentidos do ser humano de forma mais individual, proporcionando a cada indivíduo experiências diferenciadas se comparadas ao senso comum, permitindo ao ser humano sair da obviedade e literalidade, e vivenciar algo além da linguagem dos clichês.

A dança, arte cênica que é o foco desse artigo, presta-se hoje, de modo geral, a criar e desenvolver doutrinas em nome de Cristo, quando se trata de sua manifestação na igreja. Esta, por sua vez, além de não estar afinada com os parâmetros artísticos, possui líderes (especialmente os envolvidos com a “arte) “artistas” que têm sabem lidar com princípios básicos da fé cristã. Há muitas pessoas imaturas, liderando grupos, num pretenso fazer artístico, ensinando conceitos criados por si mesmos, lançando mão de trechos bíblicos fora de contexto para somar autoridade ao seu falar, instando as pessoas a entenderem-no como líderes com palavra profética, levando a liturgia à corrupção.
Ao invés de se somar à liturgia para proporcionar um diálogo com a igreja relativo ao corpo, se contentando apenas em ser e fazer arte, preocupa-se mais em ter e estar, conceitos próprios da contemporaneidade, cooperando tão somente para que a igreja continue percebendo o corpo como elemento de distanciamento entre o cristão e Deus, tendo em vista o corpo num parâmetro dicotomizado, no qual o homem tem corpo e alma atuando de forma diferenciada e não integral como a Bíblia propõe. Apesar da aparente aproximação, provocada pela mística presente nas interpretações coreográficas, estas são recheadas de clichês, de mímicas literais e adereços adicionados aos figurinos que assumem caráter para além do simbólico, quase numa tentativa de cumprir o papel do Espírito Santo, quando propõem uma sacralidade exacerbada dos mesmos, como se eles fossem divinos e tivessem poderes próprios para curar e libertar pessoas ou provocar qualquer ação espiritual.

Infelizmente, o que se vê em grande parcela das igrejas evangélicas no Brasil hoje é a perda da centralidade da Palavra de Deus nos cultos, a substituição da figura de Cristo por outras coisas, a ocupação desse espaço por uma arte esvaziada de conteúdo, que não proporciona outra coisa senão misticismo pernicioso, confusão teológica e doutrinária, principalmente para os novos na Fé. Ainda é preciso dizer que as artes cênicas, sobretudo a dança, têm ambicionado um lugar de destaque que não pertence à arte e sim a Cristo. E que, enquanto esta arte busca status teológico e doutrinário, escondendo atrás do sonho do púlpito uma vaidade velada, perde a oportunidade de proporcionar à igreja o resgate do belo por meio da fruição estética e o acesso à subjetividade, que para a psicologia é o próprio ser humano, e para a teologia está na relação entre criador e criatura.

O século XXI está apenas começando. As artes cênicas podem contribuir para que a igreja venha, nesse século, a romper com o paradigma do corpo e para que tal diálogo aconteça. (Cristo se fez corpo, se fez carne e habitou entre nós - Jo 1:14). Podem contribuir também para uma liturgia rica de elementos sensoriais e o desenvolvimento de uma espiritualidade saudável, que aprecie o belo e saiba retornar isso ao criador, sem que, para tal, tenha que se tornar elemento central ou de maior importância no culto ou na vida da igreja, mas apenas prestar um serviço ao reino de Deus através do dom que Ele mesmo deu.


Vitoria Mereiles é bailarina, integrante do grupo Catavento Dança & Pesquisa, professora de dança contemporânea e preparação corporal para bailarinos, pesquisadora do sistema Laban. Formada também em Teologia pela FATE-BH, é membro da Igreja Batista da Lagoinha, aonde integra a diretoria artística do ministério de artes.

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12 de janeiro de 2010

O drama da depressão

“Ali, entrou numa caverna, onde passou a noite; e eis que lhe veio a palavra do Senhor e lhe disse: Que fazes aqui, Elias?”. 
1 Reis 19:9

O profeta Elias confrontou os pecados do rei Acabe, chamou a nação indecisa a colocar sua confiança em Deus e triunfou valentemente sobre os profetas de Baal. Mas Elias também tinha os pés de barro. Ele era homem semelhante a nós. Depois de retumbantes vitórias, ficou deprimido e pediu para si a morte.

Ele tirou os olhos de Deus e os colocou nas circunstâncias. Pensou que sua vida dependia da ímpia Jezabel e não de Deus. Por isso, temeu e fugiu.

Elias entrou na caverna da solidão quando mais precisava de pessoas à sua volta. A depressão nos prega essa peça: quando mais necessitamos de companhia queremos nos trancar nos quartos escuros. Mas Deus ordena Elias a sair da caverna para destampar a câmara de horror da alma e fazer uma limpeza da ferida.

Quando Elias pensou que o seu ministério havia chegado ao fim, Deus revela que ele ainda haveria de ungir um profeta em seu lugar, um rei na Síria e outro em Israel. Elias pensou que a vida não fazia mais sentido e por isso, queria morrer, mas Deus o levou para o céu sem que ele passasse pela morte. Deus o arrebatou num redemoinho e Elias deixou os trapos da depressão para vestir-se com as roupagens alvas da felicidade eterna.

Ore: Pai, eu não quero perder a alegria de viver amedrontado pelas adversidades da vida. Peço-te, renova o meu coração, tira-me da caverna da autopiedade e fixa os meus olhos no poder do 
Senhor. Amém.

Pense: Sempre que tiramos os olhos de Deus para colocá-los nas 
circunstâncias adversas afundamos no pântano de desespero.

Fonte: Cada Dia.

6 de janeiro de 2010

Dez valores para um ministério de artes



1. Criatividade
Encontre formas criativas de incluir novos elementos de adoração e novas formas de comunicar a palavra de Deus. Busque, com a graça e poder de Deus, surpreender sempre a congregação. A ordem dos cultos não deve se tornar previsível. Podemos constantemente buscar formas de dar o próximo passo. Quais são as novas formas de conseguir que as pessoas experimentem a Deus?

2. Intencionalidade
A criatividade precisa estar fundamentada na intencionalidade. Isso ajuda a manter o foco. A criatividade é maravilhosa, mas se não for direcionada, acabamos perdidos. É preciso ter cuidado para garantir que não usemos a arte simplesmente para sermos “artísticos”. Devemos ter uma missão e propósito claro para tudo que fazemos em nossos cultos. E essa missão e propósito precisam estar alinhados com a missão geral e estratégia da igreja. Tenha certeza de que seu ministério está centrado na Bíblia e teologicamente correto. Seja intencional sobre o fluir da ordem do culto. O que é necessário para a “passagem” de um elemento para o outro? A congregação tem oportunidade de processar o que está sendo apresentado?

3. Excelência
Definimos excelência como “Fazer o melhor possível com o que está ao seu alcance.” Em I Sam. 16:18, Davi disse que ele não queria oferecer ao Senhor algo que não lhe custasse nada. Ele queria dar o melhor ao Senhor. A excelência não é igual ao perfeccionismo. Perfeccionismo é uma obsessão doentia que não honra a Deus. Muitos artistas lutam com o perfeccionismo. Não importa o que fazemos, devemos fazer tudo para Deus e não para os homens. Não hesite em pedir esse tipo de excelência de seus voluntários.

4. Avaliação
A avaliação está intimamente ligada à excelência. Não podemos melhorar se não identificarmos o que deu certo e errado. Isso implica numa delicada combinação de celebrar o que funcionou bem e construtivamente dialogar sobre o que não funcionou.

5. Processo
Se não dermos a atenção devida ao processo do ministério e à integridade desse processo, pagaremos caro. Eventualmente os voluntários não terão mais interesse em participar. Então, você precisa estar sempre perguntando: esse processo honra a Deus e valoriza as pessoas? Isso está diretamente ligado ao nosso caráter e integridade pessoal.

6. Autenticidade
Seus artistas estão atuando com autenticidade, seja cantando, dançando ou tocando? Estão agindo de forma artificial, forçada ou natural? Estamos expressando e demonstrando a verdade através das pessoas que participam em nossos ministérios? As pessoas que freqüentam nossas igrejas estão decidindo se acreditam ou não em nós. Avaliam se estamos fazendo um show ou transmitindo a verdade, se buscamos atrair atenção para nós mesmos ou comunicar e servir da melhor maneira possível. Precisamos identificar e eliminar qualquer coisa que se pareça com orgulho, ou algo feito apenas para atrair atenção ou algo que é feito com a motivação errada. Precisamos criar arte que retrata de forma honesta a condição humana, porque as pessoas que estão nos ouvindo sabem quando não estamos sendo honestos.

7. Comunidade
Além dos frutos que resultam de nossos ministérios, acho que o sentimento de comunidade é o maior benefício. Precisamos encontrar uma forma de viver ministério que nos permite ter alguns daqueles momentos em que nos conectamos uns com os outros, quando estamos sendo uma expressão viva do amor de Cristo uns para com os outros, e transformando nossas equipes em uma comunidade.

8. Liderança
Essas comunidades precisam de liderança. O dom da liderança é essencial para construir um ministério de artes eficaz. Não podemos ter medo de liderar. Deus irá nos guiar e nos dará a orientação necessária. Muitas vezes artistas sentem-se inseguros, desanimados e mal-compreendidos. Enquanto buscamos pastorear nosso rebanho, precisamos pedir ao Espirito Santo que nos ajude a escolher nossas palavras cuidadosamente e saber quando precisamos lançar desafios e quando usar de mansidão e sensibilidade.

9. Corações e Vidas bem Ordenadas
O maior presente que podemos oferecer às nossas igrejas não é o nosso talento. O que podemos fazer de mais importante é aquilo que Jesus nos ensinou: permancer nEle. Precisamos praticar as disciplinas espirituais que vão ajudar a desenvolver nosso caráter. Faça um compromisso de encontrar momentos de solitude onde você possa examinar e avaliar se a sua vida está bem-ordenada. Tudo que fazemos deve ser fruto desse equilíbrio resultante de vivermos com Cristo no centro de nossas vidas.

10. Momentos Transcendentes
A despeito de planejarmos um culto voltado para descrentes ou cultos de celebração, nosso alvo é preparar cada elemento do culto de forma que Deus possa usá-lo para tocar a alma humana profundamente – deixando que as pessoas experimentem Sua verdade e presença. As pessoas devem sair mudadas de alguma maneira. Teremos falhado terrivelmente se nossos cultos forem considerados criativos ou interessantes, mas não trouxeram mudança de vida com o passar do tempo.

Por Nancy Beach
Fonte: Arte com Cristo